fundamentos da ciência da sustentabilidade

Um paradigma de sustentabilidade para uma era de sínteses

Na ciência e na sociedade, é chegado um tempo de sínteses. Historicamente, a produção do conhecimento foi compartimentalizada em módulos cada vez mais especializados. Esse processo originou as disciplinas científicas que conhecemos nas Ciências Biológicas, Humanas e Exatas. Embora essa especialização tenha gerado inegáveis avanços, os desafios do século XXI agora exigem uma nova forma de fazer e aplicar Ciência. Essa transformação requer transdisciplinaridade para conectarmos conceitos, métodos e aplicações de diferentes áreas do conhecimento, gerando assim perspectivas e inovações genuitamente integradas para problemas ecológicos, econômicos e sociais universais que precisamos resolver nas próximas décadas.

Nesse contexto, construímos o DATAPB sob o conceito-paradigma de coviabilidade socioecológica , o qual representa o alicerce sustentando sínteses transdisciplinares baseadas em pesquisa quantitativa. Apresentamos, a seguir, nossos referenciais para esse conceito e como ele pode conectar áreas tão diferentes como a Antropologia, a Ecologia e a Economia em busca de soluções inovadoras para o futuro comum de humanos e não-humanos no planeta Terra.

O que é coviabilidade?

A coviabilidade refere-se aos múltiplos arranjos sob quais humanos e não-humanos podem coexistir de forma persistente, funcional e justa em sistemas socioecológicos complexos ( Berti-Equille e Raimundo 2022). Para estabelecermos essa definição, nós combinamos a perspectiva de coviabilidade sintetizada por Barrière et al. (2019) e colaboradores e a síntese sobre princípios promotores da resiliências socioecológica sob uma abordagem de sistemas adaptativos complexos apresentada por  Biggs et al. 2012.

Coviabilidade como chave para as bioeconomias do futuro

A ideia de coviabilidade nos permite colocar em diálogo as Ciências Biológicas Humanas e Exatas para moldarmos os diferentes arranjos pelos quais ecossitemas, organizações sociais e empreendimentos econômicos podem conectar-se de forma persistente, funcional e justa. A noção de que os ecossistemas podem experimentar transições de fase e possuem múltiplos equilíbrios alternativos é bem estabelecida na ciência ecológica há decádas. De forma similar, teorias de equilíbrio múltiplo são aplicadas em diversas áreas do conhecimento que lidam com sistemas complexos, tais como a Economia.

Conectar o conhecimento sobre os múltiplos estados de ecossistemas com a estruturação de bioeconomias regionais que sejam compatíveis com a conservação da biodiversidade e a inclusão social é um desafio científico universal para o século XXI. O conceito-paradigma de coviabilidade socioecológica representa um alicerce teórico e metodológico robusto para o estabelecimento de pontes transdisciplinares geradoras de inovações baseadas em sínteses conceituais, metodológicas e informacionais, a partir da qual poderemos moldar as bioeconomias do futuro. 

Biodiversidade, cultura e inovação para a inclusão social e produtiva

As inovações socioecológicas precisam atender múltiplas demandas ambientais, sociais e econômicas, as quais frequentemente são conflitantes. Muitas iniciativas que falam de bioeconomias sustentáveis, entretanto, não abordam estruturalmente a centralidade dos processos ecossistêmicos e do bem-estar social no balanceamento de  trade-offs entre necessidades da natureza, da sociedade e da economia. Nossa abordagem de coviabilidade parte do pressuposto de que o pensamento ecossistêmico, associado à valorização e proteção da cultura e conhecimentos locais, fazem parte das condições indispensáveis para planejarmos as bioeconomias do futuro. Dessa forma, utilizamos o conceito de coviabilidade socioecológica como ponto de partida para promovermos sínteses de conhecimento e aplicações da ciência à governança e educação, buscando gerar inovações que conectem os aspectos biológicos, econômicos e socioeculturais da coexistência entre humanos e não-humanos em bioeconomias competitivas, diversas, funcionais, persistentes, justas e democraticamente geridas.

Como citar este texto

DATAPB, 2023. Coviabilidade socioecológica: um paradigma de sustentabilidade para uma era de sínteses. Disponível em http://datapb.ccae.ufpb.br.

+sustentabilidade
uma visão geral sobre nossos referencias teóricos

A aplicação da abordagem de redes para o estudo de sistemas socioecológicos abre portas para inovações na pesquisa, governança e desenvolvimento de projetos que combinam ciência, democracia e participação social para construir a adaptabilidade necessária para promovermos bioeconomias regionais resilientes.

Rafael L. G. Raimundo (UFPB)

Redes Socioecológicas: integrando pesquisa e governança para conservação, inclusão e fortalecimento das economias regionais

Gravação de palestra apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade de São Paulo (2021)